O b-side, i. Os tempos tendem a ter determinadas sensibilidades associadas a si. Antes, na altura do long-play, sabia-se que para além do lado á havia o lado bê. Saber isso, a existência de dois lados, era um paradigma. Em momento posterior, o da vigência do compact disc, esse paradigma foi substituído. Actualmente, sabe-se a existência de um lado. O outro lado, embora também exista, é apenas rotular e, por isso, menos significativo. Em parte é por isto que agora é difícil saber quem é autenticamente o senhor Prof. Doutor Aníbal Cavaco Silva, nos seus dois lados. Não é que isso seja um crédito cívico extraordinário ou condição vital. Mas, perante um concurso eleitoral em que o fulano é um dos candidatos à honra de senhor presidente da República, convém não iludir que a sua efígie suscita alguma curiosidade. Curiosidade que tende a desvanecer-se quando é percebida a superfície dramatúrgica que ele representa. Porém, enquanto se olha para a personagem, tende a esquecer-se o actor. Percebe-se que há ainda outro lado, percebe-se que o rabo do gato está de fora, percebe-se o focinho do lobo sob a pele de cordeiro, percebe-se o actor sur scènes, percebe-se o fingidor quando a criatura chama “outro partido” ao CDS/PP como se tal partido político não apoiasse a sua candidatura de modo consentido por si. Na circunstância, nenhum outro cabonito se atreveria a tal improviso sobre o scrip político da realidade. Do que resulta que, se o lado á é pop, o lado bê do fulano é pop buffa. Nicky Florentino.