Já não há ferro e fogo como antigamente. Não por acaso Foucault inverteu uma célebre frase de von Clausewitz e sustentou que “a política é a continuação da guerra por outro meio”. Percebe-se isso, por exemplo, quando se constata que as actuais campanhas eleitorais se assemelham às batalhas campais do tempo das hordas napoleónicas. Porém, o que outrora era metralha e baioneta hoje é beijos e abraços efusivos. Os estandartes, esses, continuam a ser elementos simbólicos importantes na coreografia em campo, sempre a exigir agitação e vento. E as palavras de ordem e os comícios, como antes os gritos de guerra e as exortações, complementam a paisagem. Isto tudo, claro, acontece agora mais em manso e em limpo. Sem a autenticidade que o poder antes tinha, visível no sangue dos mortos e percebido na essência de pólvora aspergida sobre os derrotados. É por isso que na forma política hodierna a que se chama democracia há sobreviventes em excesso. E zombies a cheirar a sabonete. Nicky Florentino.