Miséria na esplanada. Ele arrojou-se. Percebeu-se no modo nervoso e solene com dispôs as mãos. Na situação, ela era superior. Concedeu a audição, mas não dispensou a pose exigente, de quem demanda e manda. Ele genuflectiu, encontrou as mãos em rogo. Insistiu na defesa. Jogou as mãos simultaneamente na afirmação e na esperança. Tentou o toque casual. Ela recolheu as mãos, desviou-as para a face, guardando-a. Percebeu-se que ele tinha perdido. Irremediavelmente derrotado. Não se sabe porquê. Ele espojou-se. Ela manteve o olhar inquiridor. Afinou-o, recostando-se no espaldar da cadeira. Cruzou os braços sobre o peito. Com a distância, evitou um eventual toque e afirmou a sua soberania na situação. Ele já tinha perdido, mas persistiu. Moderou a voz, segurou os gestos. Sempre em silêncio, ela anuiu com a cabeça e esboçou um sorriso. Percebeu-se o desdém. Ocasionalmente, desviava o olhar, como se atentasse em qualquer estranheza próxima. Com a aparente distracção, reforçava a soberania na situação. Ela não estava ali por ele. Sempre alerta. Concertou a cabelo, perdeu nele os dedos. Continuou a jogar o jogo. Consertou a blusa. Ele não conseguia livrar-se da condição de vencido. Quando encolheu os ombros tornou-se evidente menos a sua condição de rendido do que a de coitado. Alojou-se essa condição nele, afundou-se. Ela amparou o queixo na mão esquerda. O pedido de compaixão entranhou-se crescentemente nele, nos seus gestos. Emergiu nele o desespero, o peso da sentença. Rastejou numa desesperada tentativa de reparo. Continuou a rastejar. Ela não lhe perdoou. Não se sabe porquê. E começou a tamborilar os dedos da mão direita sobre a mesa. Uma última vez sorriu, riu. Riu a vitória, a recusa. Ela, então, é assim, tu... O libelo não tinha hipótese de rebate. E ele fechou-se no silêncio, no não, na derrota. Na miséria. E sentiu-se o gozo aspirado dela. A pose altiva, suporte de si, vaso de desprezo por ele. Ela, agora é demasiado tarde para ai ais. Ele caiu. Derradeiramente. As lágrimas sulcaram. Ele, sua puta, sua grande puta. Segismundo.