Às vezes, o Cheshire Cat não é o gato. A avózinha foi afligida por desejos. Bolos, coisas doces, queria muito ela. Em conformidade com o desiderato que a agastava, tratou a senhora de seduzir duas das pequenas bestas devoradoras, as netinhas com mais idade - não necessariamente as com mais tino. Rogou-lhes que demandassem o que era sua intenção comer na pastelaria da dona Manuela e que, como recompensa pela empreitada, poderiam elas escolher a iguaria que pretendessem. As meninas, novidade, não se comoveram com a proposta. Torceram mesmo o nariz. E foi com notório enfado que, obrigadas, foram aos bolos. Não obstante este facto, porque oportunidade é oportunidade, trouxeram as criaturinhas um bolo para cada uma. Ainda assim, chegadas, ditaram cerimónia em comê-lo por, confessaram, estarem a ensaiar uma dieta. Tinham-se visto em biquini e pôs-se-lhes no juízo que necessitavam de resgatar a elegância. Acometidas por tais raciocínios, as meninas deixaram os bolos sobre a mesa da cozinha e foram parlamentar sobre as conveniências e as inconveniências de comerem o respectivo bolo. Entretanto, por quase magia à Mandrake, os bolos desapareceram. Elas haviam deixado a porta da cozinha aberta. Para todos, a hipótese que surgiu mais plausível foi um ataque do gato. Há antecedentes sobejamente verificados e testemunhados da afoiteza e do gosto da criatura. Pouco importa que, na ocasião, o gato estivesse a dormir. Até porque, argumentou de forma convincente o tio casualmente por ali aparecido, o sono do felino parecia sono de regalado com bolos. Que sim e mal pareceu o mesmo aos outros. Segimundo.