Aproximação a deus. O que seja divino é tópico para entreter a imaginação. Mas há duas vivências que seguramente aproximam da experiência de ser deus, ainda que menor. Uma dessas vivências é a esquiva ao sono. Durante o período máximo possível dormir o mínimo possível. Apuram-se os sentidos. Aceleram-se os reflexos. O tempo torna-se útil. Os gestos adequados e precisos. A outra vivência que aproxima da condição divina é a velocidade dos trânsitos. O embalo vertiginoso separa os caminhos, deixando quase sempre apenas uma via, uma hipótese. É a orgia crash nas mãos. Acordados e acelerados o que somos emerge limpo. Não há película civilizacional para disfarçar. Não há tempo para ser diferente. Quando depois deste excesso o corpo é convocado para a queda, não se deve resistir. Deve-se cair. A queda desperta. E permite tornar à vertigem. É isto a vida. É isto viver. Segismundo.