Não o fodam, porque ele não é o Joseph K.. A burocratazinha esqueceu-se de remeter as ordens de pagamentos de honorários para a contabilidade - nas últimas semanas, disse ela, foram muitas inscrições para os mestrados e para os doutoramentos e para o raio que a parta. Consequentemente a contabilidade nem verificou a cabimentação nem remeteu as referidas ordens de pagamento para despacho. Não havendo despacho, nada chegou à tesouraria. Nada tendo chegado à tesouraria, a conta bancária do fulano não foi incomodada com o montante de euros que lhe é devido. E fica-se ainda a saber que não se sabe quando é que o assunto pode ficar resolvido - neste momento há apenas uma funcionária em cada serviço por onde o processo tem que tramitar, o que significa que tudo é susceptível de demorar mais do que é habitual. Claro que nada disto é grave. Mesmo o facto de uma das ordens de pagamentos de honorários ser referente à leccionação de uma disciplina do segundo semestre do ano lectivo passado. Sim, passado, doismiletrês/doismilequatro. Claro que cresce a vontade de mandar para a merda ou para o caralho muita gente. Mas isso é rudeza. Por isso, antes do assomo da raiva e da distribuição avulsa de impropérios, há ainda a hipótese de telefonar para o senhor presidente da casa. Que, parece, foi de férias. Pouco importa. Alguém haverá de responder. Até porque, hoje, ele está mais liberal do que costuma. Fala num tom cordato. Utiliza algum vocabulário expandido e simpático. Embora repita com frequência o conselho, não me fodam. O que espanta todos. Inclusive o senhor presidente da casa. Que foi de férias. Mas levou o telemóvel. Segismundo.