O bingo democrático. Actualmente, o mais que se pode fazer pela democracia é admitir que as eleições, para além de serem uma maçada, são uma mistificação e, neste sentido, uma fraude. É que cada vez mais o exercício de voto não é a expressão do povo soberano e a forma de equalização política dos gentios. Como observou Bernard Manin, com a recomposição sócio-política das sociedades do noroeste, as eleições, não obstante o seu potencial subversivo, são quase sempre um mecanismo de confirmação do triunfo daqueles que já foram eleitos por qualquer outra via, designadamente a via do star-system político. É por isso que o modo adequado de substituir a aristocracia democrática não são as eleições, mas, sim, o sorteio. Tomando como critério para o escrutínio de quem assoma a honras públicas ou de Estado não o rateio eleitoral mas a sorte da tômbola, conseguiria garantir-se não apenas a igualdade de condição de todos os candidatos mas também a igualdade de oportunidades entre eles. Por outras palavras, a democracia deve ser tão preservada quanto possível do povo. Só assim é democracia. Só assim os efeitos políticos das arbitrariedades e dos desvarios do juízo dos gentios seriam anulados. E só assim derradeiramente o povo deixaria de enganar-se. E ser enganado. Nicky Florentino.