Manifesto. Aqui, neste tugúrio, não somos de leis ou de as ditar. Por isso, sem autoridade ou ilusão de grei valente e imortal, é proposto: honra e glória aos infames! Porque dos infames é o outro lado, o planalto mais elevado da existência. Porque dos infames é a autenticidade. Porque dos infames brotam as sobras do avesso da luz, as sombras. Porque dos infames é o sangue mais puro, o sangue vinho, só do corpo, do seu corpo. Porque dos infames é a história não dita, mas interdita, sem domicílio nos livros. Porque só os infames são capazes de amar e trair. Porque só os infames, os verdadeiros infames, recusam a impossível equação da representação. Porque só os infames vivem a infâmia como acaso, por acaso seu. Porque só os infames, por condição própria, compreendem quem os infama, difama. Porque só os infames têm nojo - e não vergonha - da sua exposição. Porque os infames são vitrinas e vítimas de si. Porque os infames não estão isentos de erro, mas jamais merecem a redenção capaz de os requalificar para o próximo erro. Porque os infames inflamam. E assim, maus, são. Segismundo.