Captações, hors de série (i). Em Herzog.
000“Não falho de simpatia, o rosto do polícia exprimia também um fatigado cepticismo. Tinha as pálpebras espessas, e na boca silenciosa e grossa transparecia uma espécie de sorriso. Os lábios de Sono tinham tido um aspecto um pouco semelhante a este ao interrogarem-no sobre as outras mulheres na sua vida. Bem - a variedade de singularidades, álibis, invenções, fantasias em que a polícia se imiscuía todos os dias... Herzog fazendo os seus cálculos o mais inteligentemente que conseguia, embora sob o peso da responsabilidade e do temor, julgava que talvez não fosse muito fácil para este polícia classificá-lo. Havia rótulos que se lhe quadravam, naturalmente, mas um polícia rotineiro não estaria familiarizado com eles. Possivelmente agora mesmo havia um tom de orgulho nesta reflexão, tão obstinada é a loucura humana: «Senhor, que os anjos glorifiquem o vosso nome. O homem é uma louca coisa, uma louca coisa. A loucura e o pecado entram em todo este jogo...» A cabeça de Herzog doía-lhe e não conseguia recordar mais versos. Retirou a gravata do crânio. Não devia permitir que se colasse; podia arrastar consigo o coágulo. June pousara a cabeça no colo dele. Protegeu-lhe os olhos do sol”. Segismundo.