Página do livro dos sonhos interrompidos. Foi assinalado um penalty. O jogo seria resolvido nesse derradeiro lance. Ninguém queria assumir a responsabilidade. Convocaram-no. Ele estranhou. Estranhou não a convocação. Estranhou a renitência dos outros, todos, em marcar o penalty. Ele entrou em campo. Aproximou-se da grande área. O guarda-redes perfilou-se. O árbitro entregou-lhe uma folha de papel áquatro. Não havia bola. Ele teria de rematar uma folha de papel áquatro. Observando a sua demora, alguém da sua equipa lhe tomou a folha das mãos e a colocou na marca da maior das penalidades. Assente sobre a terra, a folha de papel quase se tornava indistinta. Apenas a sua alvura contrastava. Ele hesitou durante mais algum tempo. Depois dirigiu-se à folha de papel, pegou-a e amarrotou-a, tentando dar-lhe uma forma esférica. Voltou a colocar a folha de papel sobre a marca. No momento de tal gesto, à sua volta fez-se um silêncio súbito, seguido de um murmúrio alargado. Os adversários, ultrapassado o seu atónito estado, reclamaram. Aquele gesto não era conforme as regras do jogo, avisaram. Os da sua equipa demoraram mais a sair do espanto. E não sabiam o que argumentar. O árbitro, em jeito salomónico, decidiu que, se embrulhada, ele não poderia chutar a folha do chão. Teria de rematá-la de um plano mais elevado. Para isso, foi colocada uma mesa no local da marca de grande penalidade e, sobre ela, a folha de papel enrolada. Segismundo.