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Albergue dos danados

Blog de maus e mal-dizer 

2005-03-30


O lugar da tranquilidade. Na edição de ontem do Público, José Vítor Malheiros escreveu, “um novo Governo não pode viver num off-shore político”. A questão tem dois sentidos. É o Governo que produz o seu estado de graça?, escondendo que governa, ou são os gentios que emprestam um estado de graça ao Governo?, para que não governe. Em rigor, Governo é coisa de que a pátria não carece. Os gentios, tranquilos, são perfeitamente capazes de se governar a si-mesmos. O que já foi percebido há muito tempo. Por exemplo, em Fevereiro de miloitocentosedezanove, Benjamin Constant, esse desgraçado que se envolveu com mais mulheres do que vezes se bateu em estouvados duelos de honra, pronunciou isso mesmo no final da célebre prelecção De la liberté des anciens comparée a celle des modernes, utilizando os seguintes termos, “a obra do legislador só estará completamente terminada quando alcançar a tranquilidade do povo. Mesmo depois de o povo estar satisfeito, muito há ainda a fazer. É necessário que as instituições realizem a educação moral dos cidadãos. Respeitando os seus direitos individuais, cuidando da sua independência, não interferindo nos seus afazeres, as instituições devem consagrar a influência dos cidadãos na coisa pública, apelando-lhes que concorram, pelas suas determinações e pelo seu sufrágio, no exercício do poder, garantindo-lhes um direito de controlo e fiscalização através da manifestação das suas opiniões, educando-os pela prática no exercício dessas nobres funções, dando-lhes, ao mesmo tempo, o desejo e a faculdade de as desempenharem de forma correcta”. Ora, há muito que, em Portugal, se foi para além deste estádio. Os gentios sabem-no. Os governantes também. É essa, a traquilidades, uma das suas maiores felicidades comuns. Nicky Florentino.


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