O lobo que queria ser anjo mau. No bosque havia um lobo. Esse facto era já estranho, por ser o lobo único e não peça de uma alcateia. Mas mais estranho era o facto de o lobo desejar ter asas. E desejava ter asas porque queria ser anjo. Queria ser anjo mau, para poder voar. Por tardarem as asas a rasgarem-lhe o dorso, um dia decidiu o lobo, com as patas, investir sobre a aldeia. E, pelo crepúsculo, lusco fusco, foi. Assomou à porta da quarta casa. Estava aberta. Sondou-a. Nessa operação usou o focinho e os olhos. Avançou sorrateiramente para o berço, em balanço curto, que estava junto à lareira. Observou brevemente o que estava sob o manto com bordado vermelho. Depois, lesto, devorou a criança que nele dormia. Regalado de carne tenra, tornou ao bosque. E continuou a esperar as asas. As asas que tardavam em rasgar-lhe o dorso e que, como anjo mau, lhe permitiriam voar. O Marquês.