Maternidade, i. As mães insistem em ensinar os filhos a protegerem-se. Ensinam-nos a protegerem-se das raparigas – das mulheres não, porque, para as mães, os filhos, mesmo se maduros, nunca deixam de ser rapazes e, por isso, jamais chegam a presas de mulheres. Ensinam-nos a protegerem-se do sol e do mar. Também do frio e da chuva. Da miopia e da sinusite. Dos vícios e dos descaminhos. Ensinam-nos até a protegerem-se de demónios inesperados, como as más companhias, o amor falhado ou a impaciência. As mães, na sua maternal pedagogia, apenas não ensinam os filhos a protegerem-se das suas mães e respectivas manias tutelares. É por isso que, quando, às seis e meia da manhã, vão à cozinha indagar o motivo por que o filho está a fritar batatas às rodelas e a torrar pão, não lhes basta o óbvio, a fome do filho. E o filho, sem resposta suficiente ou adequada explicação para o facto, perante a progenitora, se sente inevitavelmente desprotegido e menor. Segismundo.