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Albergue dos danados

Blog de maus e mal-dizer 

2004-12-23


Encontro com o fantasma que vem no Natal. Ela, olhando-o nos olhos, e se?... Ele, isso não interessa, isso já não interessa. Ela, como é que sabemos isso?, como é que sabemos que isso não interessa? Ele, pousando a chávena de café, não sabemos, mas é tanto o que não sabemos. Ela, mas não tens curiosidade?, não te inquieta saber o que podia, talvez pudesse, ter sido diferente? Ele, não, basta-me saber o que foi, os cenários que me interessam são aqueles que são plausíveis. Ela, sabes?, às vezes ainda penso o que poderia ter sido. Levou a chávena, segura entre as mãos, aos lábios, bebeu o café que ainda havia para beber e, depois, continuou a conversa, estás bem?, estás mais magro, não estás? Ele, sim, estou. Ela, também estou bem, comigo está tudo bem.... Ele, eu disse que estava mais magro... Ela, á, percebi que tinhas dito que estavas bem... Ele, estou mais ou menos... e tu?, como é que disseste que te ia a vida? Ela, eu também estou mais ou menos, disse em surdina, desviando os olhos, para baixo, como se carregasse a culpa. Ele, continuas bonita. Ela, corada, depois de um segmento de silêncio, e tu?, continuas leal ao princípio que nos afectos a marcha-atrás é uma manobra perigosa?, uma manobra a evitar? Ele, continuo, embora não tanto quanto devia. Ela, porquê? Ele, porque sou fraco. Ela, e isso é mau? Ele, bom não é. Ela, mas pelo menos segues o teu coração..., não? Ele, não sei. Ela, mas devias saber. Ele, eu sei. Segismundo.


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