Esquecer. Olhou-o nos olhos, olhos esquivos. Ele entrou. Foste tu quem me apresentou a canção do esquecimento
je ne t’en veux pas
je ne te vois pas
et j’ai oublié
qui tu étais
que estou a ouvir. Não sei de ti, cada vez sei menos de ti, se ainda existes como te conheci, se me ainda me queres. Nada..., disse ela. Ele aceitou a culpa. Permaneceu estático no meio da sala, com o olhar vergado, caído sobre o chão. Não sei se te estou a esquecer, continuou elal,
qu’est ce que j’ai bien pu faire
de ce souvenir
j’ai oublié
sei apenas que começo a desejar esquecer-te. Não sou como tu, apontou-lhe o indicador da mão direita, não fujo. Mas também não suporto continuar a perseguir-te, a perseguir um espectro, com o coração. Talvez sejas o homem da minha vida, admito-o. Mas talvez não sejas para sempre esse homem.
je ne t’en veux pas
je ne te vois pas
l’histoire de ce train
ne me dit rien
Ele continuou silente e tímido. Nada tinha para dizer. Dizer o quê?, desculpar-se?, dizer que não sabe de si?, dizer que anda em busca de si mesmo? e que não se encontra?, dizer que não sabe onde está? ou quem é? Mas ela necessitava de uma garantia, penhor de confiança. Ou de palavras. Como ele não as dizia,
de quois nous avons parlé
a la fin d’été
j’ai oublié
j’ai tout oublié
disse-as ela. Caminho para esquecer-te. E sei que a frémita vontade de regressar ao futuro, que ainda me assola, se vai dissipar. É a erosão dos afectos...
oublié
Por isso, disse ela ainda, se voltares, quando voltares, talvez já seja tarde. E talvez até eu já não seja quem sou, ainda tua, ainda minha, vida, urgência viva, e não memória, não lembrança da perda feita dor, que começo a ser. Segismundo.