Esfolar a amada. Constantino apaixonou-se por Miquelina. Depois amou-a. Sempre com uma intensidade mórbida. Ela entranhou-se nele. De tal modo que ele ficou dependente do seu perfume, do seu cheiro. Um dia Miquelina quis soltar-se, fazer-se livre. Nunca se apaixonara por Constantino. Também nunca o amou como ele a amava. Decidiu, por isso, partir, fugir. Partiu, fugiu. Mas o Constantino foi no seu encalce. Encontrou-a. Segurou-a. Envolveu-a num lençol. Colocou-a no carro. E, com ela cativa, regressou decidido a casa. Antes de chegar, porém, parou no velho moinho de água. Entrou, carregando-a sobre o ombro direito. Pousou-a na laje do chão. Desenvolveu-a do lençol. Rasgou-lhe a blusa. E com uma faca cortou-lhe a pele das costas e do peito. Depois, acto contínuo, arrancou-a, como se fosse uma folha. A única saudade que tenho é do teu cheiro, por isso levo a tua pele comigo, disse ele, enquanto ela gritava a lancinante nudez da sua carne e a corrente da água e o ranger das rodas dentadas abafavam os seus agudos uivos de dor. O Marquês.