Captações, xii. Em Les Chants de Maldoror. “Não encontrando o que procurava, ergui mais alto a pálpebra assombrada, mais alto ainda, até avistar um trono, formado de excrementos humanos e de ouro, sobre o qual reinava, com um orgulho idiota, o corpo coberto de uma mortalha de lençóis sujos de um hospital, aquele que a si mesmo se intitula Criador! Tinha na mão o tronco apodrecido de um homem morto, e levava-o alternadamente dos olhos ao nariz e do nariz à boca; uma vez na boca, adivinha-se o que fazia. Os pés mergulhavam-lhe num vasto mar de sangue em ebulição, à superfície do qual se erguiam de repente, como ténias no conteúdo de um bacio, duas ou três cabeças prudentes, que imediatamente se baixavam, rápidas como setas; um pontapé bem aplicado na cana do nariz era a sabida recompensa para a revolta contra o regulamento, ocasionada pela necessidade de respirar noutro meio ambiente; porque a verdade é que aqueles homens não eram peixes! Quanto muito anfíbios, nadavam conciliatoriamente naquele líquido imundo!... – até que, quando já não tinha nada na mão, o Criador, com as duas primeiras garras do pé, pegou noutro mergulhador pelo pescoço, como com uma tenaz, e ergue-o no ar, acima do lodo encarniçado, requintado molho! Àquele fazia o mesmo que ao anterior. Devorava-lhe primeiro a cabeça, as pernas e os braços, e em último lugar o tronco, até não sobrar nada; porque mastigava também os ossos. E assim sucessivamente, durante as outras horas da sua eternidade. Às vezes exclamava: «Criei-vos, e portanto tenho o direito de fazer de vós o que quiser. Dou-vos sofrimento porque me dá prazer»”. Segismundo.