Adeus. Hoje, embora triste, porque foste para longe – uma vez mais, estás sempre a ir, a voltar para longe –, retenho a alegria da tua companhia. Não esqueço que, quando comecei a falar-te de Philip Larkin, fugiste para me falar de Philip Roth. Gostas destes jogos, não é? De embaraçar? De baralhar? Por vezes esse jogo parece-me um expediente que utilizas para fugir de ti mesmo, da circunstância, do tempo e do lugar onde te encontras. Não tenho a certeza que assim é, mas suspeito que seja. Estou triste. Este é talvez o primeiro instante em que me confesso sinceramente a ti. Sinto a tua falta, a falta de ti inteiro, não apenas das tuas mãos. Sinto muito. Talvez sinta demais a tua falta, em demasia, excesso. Não sei se é doença ou mal. Sei apenas que sinto a tua falta, que sinto muito a tua falta. Assim como sei que um dia terei de te dizer o último adeus. O adeus sem retorno, sem devolução, sem regresso. O adeus que termina uma hipótese de futuro entre nós. O que sinto por ti tem-me permitido fintar e iludir esse adeus derradeiro, sem apelo. Mas não sei até quando dizer-te adeus será suportável para mim. Sei apenas que um dia acontecerá, dizer-te adeus para não tornar a repetir. Ou talvez não. Não sei. Parece-me que o rio está a morrer lá fora. É uma sensação recorrente quando estou em solidão. Para além disso, está frio. Arrefeceu. Agora vou dormir. Estou exausta. E, sabe, a porta do quarto fica aberta, aberta para ti. É a forma que tenho de, em silêncio, à distância, enunciar o teu nome e clamar por ti. Não demores. Boa noite. Escreveu-lhe ela. Segismundo.