O voto como engano. Escreveu o João, “é uma má ideia usar o voto para punir a performance passada. Os eleitores devem decidir com base em conjecturas acerca da performance futura de cada candidato. O passado já passou”. O discurso é meio atinado. E por ele se vê a ilusão do que é o voto. O desgraçado do eleitor só experimenta a minúscula parcela de soberania no juízo que faz sobre o passado, se esse passado no presente se insinuar para o futuro. O que o voto faz, consegue fazer, é estancar o passado. Mas o voto, de facto, vale para o futuro, o escrutínio vale para o porvir. É por isso que frequentemente a democracia acontece logro e lodo. E ainda bem. Na próxima oportunidade eleitoral os gentios têm a possibilidade de confirmar ou não o conforto que decorre desse logro e desse lodo. O raio em tudo isto é a mania, a tentação de confirmar o que vem do passado. Que, de facto, já passou. E se percebe que nunca devia ter passado. Talvez ainda não seja tarde. Mas quase sempre é já tarde demais. Pelo menos para a paciência. Nicky Florentino.