Ironia de e por ti. Por que é que estremeces de modo tão permanente? De onde promana essa dúvida que te faz simultaneamente humilde e exaltado? São perguntas que coloco, embora sem endereço ou necessidade de resposta. Conheço um único lugar do teu corpo onde a incerteza nada altera. Não são os teus olhos cavados de castanho fundo, que são mentirosos, são as tuas mãos duras, brutas, quando em sossego, quietas sobre o meu corpo. De ti pouco mais sei. Sei que vibras pouco nos jogos de futebol da seleção nacional. Sei que não tens frio. Sei que me aconchegaste os lençóis. Sei que me deste um beijo na face. Sei que o teu cheiro está nesta almofada ao meu lado. Sei que foste embora. E tudo o que sei não sei. Não digo, não quero dizer. Mas tudo o que sei não sei. Boa noite. Até amanhã. Escreveu-lhe ela. Segismundo.