Campanha alegre. Naquele ofício não havia facilidades. Tudo custava. Ainda assim, os homens pareciam felizes. Entregavam-se às missões com decidido entusiasmo e nunca reclamavam das condições de trabalho, do horário ou da remuneração. Um dia, porém, tudo mudou. Num dos homens as costas rasgaram-se e, pelas escápulas, cresceram asas. As asas eram revestidas por uma plumagem clara. Nasceu nessa data a vaidade, porque o homem asado, a quem passaram a chamar o anjo, entendia que o serviço lhe deslustrava as penas e, por isso, recusou-se a trabalhar entre a fuligem. Aos outros, nesse exacto instante, fugiu a felicidade, mesmo que fosse uma felicidade fingida. Tornou ela apenas depois de o dito anjo ter sido encontrado morto, com as asas arrancadas. Os outros, para aplacarem a estranha sensação de miséria que lhes havia assomado, decidiram assassinar o desgraçado. E com requinte o fizeram, utilizando grandes alicates no feito. Ninguém pode tolerar que um qualquer infeliz, por sortilégio da natureza, a quem lhe foram proporcionadas asas, possa destruir a alegria no trabalho. Por isso, mas também por que lhes agradou participar no martírio do anjo, mataram-no. O Marquês.