Um rasto de vida. Veio carregada de luto, face congestionada pelo calor. Com a sua entrada percebeu-se o fim do mercado. Assomou ao balcão. Pousou o cesto saloio no chão, coberto por um pano bordado de cores garridas, vivas, sem qualquer ovo. Vendi-os todos, senhora, informou a velha. Ainda bem, responderam-lhe de trás do balcão. E o que vai ser?, o que deseja?, perguntaram à velha. Olhe, é uma cervejinha, se faz favor, um cervejnha preta - faz menos mal, diz o meu neto -, para matar a sede, disse a velha. A garrafa foi colocada sobre o balcão, junto um copo. A velha recusou o copo. Sorveu a cerveja em dois largos tragos. Pegou num lenço engelhado, limpou os lábios e, depois, humedeceu-os com a língua. Quanto é?, minha senhora, perguntou a velha. Pagou, pegou no cesto, tenho que ir apanhar a camioneta, disse, e saiu, deixando um rasto de vida que a idade e o luto não lhe deixavam suspeitar. Segismundo.