A queda da dona Maria Antónia. Ela sentou-se num banco, o do meio, um dos protegidos pela sombra. Consertou-se com dificuldade. Puxou as meias, esticando-as até ao limite, para segurar o frio fora de si. Não estava frio, mas os muitos anos que lhe vergam o corpo já não lhe permitem o combustível vital da jovialidade. Recostou-se, escorando-se sobre o braço direito, pois o banco não tinha apoio, espaldar. Nessa posição disfarçou a corcunda acentuada que quase a vinca sobre si. Segurou um jornal com a mão esquerda, ao nível dos olhos. E assim permaneceu, como uma estátua, a ler o jornal, até que, desamparada, caiu sobre a calçada da praça. Os putos, que, próximos, jogavam à bola, riram. E não foram em socorro da velha. Riram apenas. A inocência é assim. Perversa e indolente. O Marquês.