Pecado e castigo. Sim, disse o rapaz, fui eu. Ouvida a confissão, o sacerdote, ministro plenipotenciário, telúrico representante de deus, serviu-se de quanta ira conseguiu descobrir em si e, pelos seus actos, executou sumariamente a justiça divina. Levantou-se, segurou um ceptro, contornou o confessionário e, com violência, atingiu repetidas vezes a cabeça do pecador, que, ainda prostado de joelhos, esperava o decreto da penitência. O seu corpo, vencido, tombou secamente sobre o soalho da capela. Soou um ligeiro vagido. Entretanto, o pároco olhou para as mãos. Lambeu o pouco sangue que sobre elas se precipitou. Sentou-se. Apoiou-se no ceptro que utilizou contundentemente contra o crânio do rapaz. E, com enlevada satisfação, ficou a contemplar o corpo, trespassado pela dor, a esgotar-se no último suspiro e a fazer-se cadáver. O Marquês.