A outra. O jogo da sedução, tantas vezes ensaiado por ambos, já fora ultrapassado. Os corpos estavam enleados. Os beijos eram sôfregos. Ele e ela sentiam-se já tomados pela vibração que anuncia o êxtase. Aturdido pela paixão do instante, ele sentiu necessidade de dizer és a mulher da minha vida, a única mulher da minha vida. Ela segurou o cabelo escorrido com uma das mãos e procurou-lhe a boca. Beijou-o, recompensando-lhe as palavras. Depois, quebrou-lhe o selo dos lábios e alcançou-lhe a língua. Prendeu-a entre os dentes. Cerrou-os. E, súbito, projectando violentamente a cabeça para trás, arrancou-lhe a língua. No gesto, teve a oportunidade de ver emergir o esgar de dor que se definiu no rosto dele. Não tornarás a mentir-me foi o que, após ter cuspido a língua para o chão, disse a ultrajada amante, cansada de satisfazer-se com as sobras do marido da sua irmã, aquela com quem ele, por preferência, contraíra o sagrado sacramento chamado matrimónio. O Marquês.