O puto aranha. Tem um filho, pequeno – os filhos são sempre pequenos, nunca páram de crescer –, talvez com três anos de idade, talvez com quatro, que padece da mania que é o homem aranha. Ela, estremosa mãezinha que é, anda deveras preocupada, pois o puto lança-se estouvadamente contra as paredes, tenta escalá-las, assim como insiste em, lá em casa, trepar a tudo quando é gadget altaneiro. Parca em juízo, a dita mãezinha responsabiliza a televisão pela desprogramada fase por que o cachopo está a passar. Como a televisão é apenas um mostrador, é evidente que não é aquela caixa que é responsável por qualquer desvario do fedelho. É de crer, aliás, que a origem do mal esteja mais próxima do destino, do puto, do que ela é capaz de estimar. Acontece, porém, que a fulana não costuma olhar-se ao espelho. E, por isso, para si mesma, é como se não existisse. Tem ela a confortável e ingénua sensação que os males do mundo têm origem e existem apenas para além de si. Embora seja evidente, quando se olha para a criatura parida por ela, que ele há males que se prolongam por via hereditária. Segismundo.