No Café Central. Ela entrou e estacionou junto ao balcão. Esperou a sua vez. Que queria ela?, tabaco?, totoloto?, uma revista?, um jornal? Quando a dona Natália lhe perguntou o que desejava, ela debruçou-se sobre o balcão e, sem palavras, apontou uma revista. Ficou nessa posição. Ele, entretanto, entrou também. Estancou à entrada. Nada queria da tabacaria. Ficou a olhar, a apreciar a rapariga, de costas, dobrada. Concentrou o olhar. Afinou-o, baixando a cabeça e olhando por cima dos óculos, convenientemente puxados no momento até à ponta do nariz. Deve ter imaginado o segredo que estava para além das calças justas dela. Deve ter desejado esse segredo - o sorriso traiu-o. Ela continuou dobrada sobre o balcão, sem perceber a cobiça do seu corpo. E ele, surpreendido com esgar de guloso, depois de ruborizar e, envergonhado, baixar a cabeça, olhar para o chão, dirigiu-se para uma mesa. A rodar a aliança do anelar da mão esquerda. Antes de a esconder no bolso. Segismundo.