Fra(n)queza, ou Consideração sobre um cadáver esquisito. Às vezes pedem-nos para sermos francos. Ou exigem que sejamos francos. Por princípio irónico, devemos ser francos. Não porque nos pedem ou exigem. Sim porque merecemos a franqueza dos outros. A sinceridade implica reciprocidade, simetria. A simulação é um exercício de assimetria. Mas, ironia – a puta da vida é mesmo assim –, quem pede ou exige que sejamos francos momentos e ocasiões há em que não consegue ser sujeito de franqueza. Fosse este o maior problema... Porém não é. Tão pouco é problema. É simplesmente descortesia. Ou, talvez, então, dificuldade em mostrar as cartas seguras na mão. Com o temor de que, porque outros ficam a conhecer o jogo guardado, se fique desprotegido. Como se isso fosse um trunfo. Não, não é. É a confiança gasta. Melhor, é a desconfiança. Que foi sempre ou quase. Segismundo.