Arbeit Macht Frei. Diferente do risco de vida, não havia qualquer propósito naquele trabalho. Não era por isso um trabalho. O complexo era composto por sete linhas, cada uma com onze enormes serras, com discos de dentes afiados e pastilhados. A distância entre as linhas era mínima. A distância entre as serras também. Os enormes discos tinham uma rotação extraordinária. Quem lá trabalhava limitava-se a alimentar as serras com a madeira providenciada por via de um extenso sistema de tapetes rolantes. Poderia dizer-se que o que se produzia ali, naquele complexo, era serradura. Mas a tal produto, o único que resultava do labor dos homens, não era dado qualquer escoamento para o mercado. Não obstante, o complexo não parava. Existiam quatro turnos de seis horas cada e durante cada um desses períodos os homens limitavam-se a transmutar a madeira em serradura. Mesmo quando ocorriam acidentes, o que quase sempre significava que alguém tinha sido tolhido e, parcial ou plenamente, destroçado pelos discos, o complexo continuava a operar com normalidade. Se alguma máquina, por qualquer motivo, deixava de ter o seu operador, imediatamente era accionado um esquema de segurança e, de modo pronto, era colocado um outro homem no lugar vago. Fazer sofrer, estropiar, matar, parecia ser o único objectivo daquele negócio. E, de facto, era. O Marquês.