A democracia não existe. É uma ficção. E, enquanto ficção, opera como um limite de referência, como um horizonte. Há, porém, por latamente difundida pela propaganda, alojada nos crânios dos ingénuos gentios, a ilusão de que a democracia não é uma ficção. Mas uma ordem política já alcançada. A ilusão, no seu engano, sossega. Pelo que a inquietude surge apenas quando essa ilusão se desvanece. E se percebe que o pátrio Estado, menos do que governado dentro de uma ordem genuinamente democrática, é uma espécie de condomínio. Fechado. O que é bom quando esse fechamento protege o juízo político e a administração do humor volátil das hordas da rua e do populismo polaroid contemporâneo. O que é mau quando os eleitos ou nomeados não têm o pudor exigido e se comportam como um furão num galinheio, inebriados pela sensação king size de que são o rei pilha-galinhas lá do pedaço, sem par e sem ímpar. E que aquilo, o Estado, o lugarzinho na adminstração, é deles, só deles, tudo deles. Nicky Florentino.