As hodiernas composições sociais são sociedades de ilusão. E, porque assim é, tende a crer-se que as ilusões são poderosas. Segundo a edição de hoje do Público, dois terços dos portugueses entendem que a televisão tem demasiado poder. É por isso que, incapazes, impotentes, quando têm um problema, os gentios reclamam e clamam pelas câmaras dos operadores. Não resolvem o problema, mas expõem de modo condoído a miséria, na expectativa de que uma caridosa e altruísta entidade administrativa os socorra e lhes solucione o problema. No instante, os poderes, alojados onde devem estar, sobressaltam-se com a exposição da (ir)responsabilidade, seja ela política ou cívica. Porém, imediatamente depois, segue-se outro sobressalto. E o anterior é esquecido. É por isso que a televisão não tem poder. A sua força dissolve-se nas imagens e nas vozes que se projectam permanentemente sobre imagens e vozes anteriores. A televisão, enquanto emissor, esgota-se a si mesma. E nesse processo, recorrente, mais do que incomodar – como o moscardo maiêutico –, anestesia. Anestesia na ilusão, anestesia com as ilusões. É por isso, reitere-se, que a televisão não tem poder. Aliás, só a julga com poder quem não tem poder, os fracos, ou quem não sabe o que é o poder. Segismundo.