Participar na folia do Carnaval é provavelmente a forma mais acintosa de auto-desrespeito a que qualquer criatura se dispõe. A miséria que as apessoadas almas se sentem tentadas a utilizar como máscara é rigorosamente a mesma miséria que carregam envergonhadas durante o ano e para a qual não há sacerdote que lhes consiga o alívio. Aliás, se se celebram homílias todos os domingos, para quê este cortejo pagão onde o disfarce é a revelação cruel e voluntária da identidade disfarçada? O Carnaval é a filosofia da TVI transposta para as ruas. Daí que, mal por mal, seja preferível que o triste espectáculo da despudorada exibição da miséria se confine à televisão. Pois essa, embora seja permanente, comanda-se à distância. Em última instância por via do off. O Marquês.