O gosto dos gentios pelo mórbido cortejo de dor tornado espectáculo nestes últimos dias decorre menos do seu património de emoções do que do seu lapso de confiança. Os gentios são Tomés, necessitam de ver para crer. Por isso, necessitam de ver para confirmar que as coisas são como são e não diferentes. Que o morto está morto. Que o cadáver é cadáver. Pela recorrência, pela exploração até à exaustão do mesmo, confirma-se a ordem do mundo. Porquanto há sempre a hipótese de as coisas não serem como se julga ou se expecta que elas sejam. Seja como for, juízo certo sobre o mistério da vida parece ter o desassossegado Bernardo Soares. Sentenciou ele, “a vida é a hesitação entre uma exclamação e uma interrogação. Na dúvida, há um ponto final”. Ponto final que, em muitas circunstâncias, é o último reduto antes da náusea. Segismundo.