Há uma personagem em Empire, de Gore Vidal, que, vai longa a trama, desabafa, “a política é insignificante quando se não é político”. Compreende-se, pois, a actual tendência à novelização e espectacularização da política. No sentido em que tornar a política numa novela e num espectáculo é uma forma de a traduzir para gentios. Feito isto, não só se garante que os gentios não são assomados por vontades de assomar a políticos, mas também se consegue que esses mesmos gentios se confinem à condição de espectadores. Ir para além disto, reconheça-se, seria o maior desastre ecológico de todos. Seria tentar a democracia como ela não pode ser. Democrática. Aliás, Péricles, na célebre oração fúnebre - na sequência da batalha de Peloponeso - , já disse tudo isto. Pelo que, de então para cá, o melhor que tem sido feito, nos raros casos em que tem sido feito, é recordar as suas palavras. Nicky Florentino.