Existe uma tribo urbanita estranha, aquela dos que, no cinema, ficam sentados a olhar para o écran até que se esgotem os créditos do filme. Há outros que também ficam, porém não são da tribo estranha. Uns apenas acompanham os da tribo estranha. Outros, ainda que permaneçam sentados, assalta-os uma inquietude, por, embora lhes apeteça levantar e sair da sala, não quererem estorvar ou incomodar os da tribo estranha que insistem em acompanhar o correr das letras miudinhas projectadas no cabo da bobine. Quando se olha para os da tribo estranha, nos olhos, percebem-se impregnados de uma solidão e preenchidos de todos os demónios que não mostram a face. Parecem gostar de apreciar pormenores que não interessam ao menino Jesus. Têm um ar inteligente. Não é líquido, contudo, que sejam menos do que loucos. Pelo menos é assim que também os sinto. Doidos. E avessos à ordinária economia do tempo de saída do cinema. Pois não é vergonha, julgam eles, ser-se o último. Segismundo.