Encosta o indicador, em riste, ao vidro e diz olha!, amor, não é bonito? – não, não é bonito. Ele olha displicente, não responde. Ela recolhe o dedo, deixando gravada a gordura do seu dígito na vitrina. Fica lá a impressão do seu desejo, desejo aplacado por uma invibilidade. Ele revela-se indiferente ao sofrimento dela. A vida ensinou-o a não ser excessivo nos desejos. Por isso escolheu-a a ela para sua namorada ou esposa. São estas condições que tornam provável a violência doméstica. Alguém tem de suportar a impiedade da vida. Que sejam os mais fracos, é a regra. Ou, se não os houver próximos, que sejam as mulheres. A matéria é quase a mesma. Daí que, na prática e pela prática, seja indiferente sobre quem se abate a violência. O que releva é o efeito catártico desse processo. O Marquês e Segismundo.