A senhora Doutora Maria Filomena Mónica encerrou hoje a sua diatribe sobre os programas escolares. No remate do seu tríptico, sentenciou, “após alguma reflexão, eis a conclusão a que cheguei. Enquanto os filhos dos pobres são metidos em salas de aula onde se discute o que levou Tomé a expulsar a Maria de casa, os meninos privilegiados entretêm-se a ler poetas simbolistas”. Por outras palavras, os filhos dos pobres não são meninos. Os meninos privilegiados não são filhos. Os nomes masculinos, como Tomé, prescindem da precedência de artigo definido. As denominações femininas, como a da Maria, necessitam de ser antecedidas por artigo definido. Os filhos dos pobre são metidos em salas de aula. Contra a sua vontade, supõe-se. Os meninos privilegiados entretêm-se a ler. Não, nunca, a jogar à bola. Aliás, os meninos privilegiados, se, por acaso, jogarem à bola, não jogam à bola, envolvem-se ludicamente em dinâmicas de grupo de disputa em torno de um objectivo. Pois é assim que, provavelmente, os poetas simbolistas definem o futebol. Enfim, a reflexão da senhora Doutora revela-se padecente de défice. Se fosse suficiente, a reflexão, talvez a sobressaltasse o facto de os filhos dos pobres não estarem na sala de aula, mesmo quando lá são metidos. Mas vislumbrar de modo tão distorcido as coisas obrigava a um excesso de reflexão. E a outra conclusão. Segismundo.