A senhora Doutora Maria Filomena Mónica deu publicidade, num texto estampado na edição de hoje no Público, às tropelias por que passou para conseguir um programa do primeiro ciclo do ensino básico. E não conseguiu. Quem conseguiu foi uma solicita irmã, competente no ofício de manipular os acessórios de trânsito pela worldwideweb. A dita senhora Doutora até se recordou de Kafka.
Uma das dimensões do poder da administração pública é a opacidade dos seus procedimentos e produtos. O Estado, enquanto besta, alimenta-se de uma cultura de segredo que o protege e blinda. É por isso também que o cidadão é uma ficção para o Estado. O cidadão é uma personagem inscrita nas narrativas legislativas ou políticas, mas que não corresponde a nenhuma categoria de gente empírica. Em todo o caso, o cidadão, para além de não existir pelo Estado, também não existe por si. Qualquer gentio, que é a franca maioria do tipo de criaturas que compõem essa entidade chamada Estado, é muito cioso dos seus direitos, mas muito negligente das suas obrigações e reponsabilidades. Por isso, os burocratas e os burocratazinhos olham, quando olham, de soslaio para as raras criaturas que se lembram de afirmar a sua condição de cidadão quando solicitam algo à administração pública. Esse é um código que a pragmática dos fulanos camuflados em agente de Estado tende a não reconhecer. Para eles, o cidadão é tal qual como uma qualquer personagem de uma qualquer fábula. Não existem fenomenologicamente. Por isso é que muitas vezes se resguardam por detrás dos balcões ou dos telefones. Sentados nas suas cadeirinhas. Cidadãos... É isso e sereias. Nicky Florentino.