Que se perceba, o aumento das propinas do ensino superior público tem um único efeito positivo, aumentar a responsabilidade dos alunos relativamente à sua trajectória escolar. Em tudo o mais, que se vislumbre, tudo fica na mesma. Neste processo, sobressai destacada a retórica, o elevado tom da propaganda governamental e o demagógico protesto dos estouvados estudantes. Pouco ou nada se diz sobre a relevância dos cursos oferecidos, sobre a sua estrutura, sobre a sua coordenação, sobre a deficiente preparação pedagógica dos docentes, sobre as condições impróprias, as salas de aula, as bibliotecas, os centros de informática, os gabinetes para atendimento aos alunos, sobre os alunos deslocados, sobre a inexistência de tutorias, sobre o regime pós-laboral e o estatuto do trabalhador-estudante, sobre a desgovernada gestão das universidades, sobre a mirífica acção social escolar, etcetera. Mas muitos falam, muitos dissertam, muitos opinam sobre o raio das propinas, sobre o pormenor. Quase sempre os do costume. E irónico é que, com toda a algazarra, com todos os expedientes manhosos das partes implicadas, dos governantes, dos dirigentes das universidades, dos estudantes, a (des)ordem das coisas tende a permanecer, como se fosse imune ao ruído e ao estrépito que por aí corre. Poucos são os inocentes. E ninguém morre por não haver heróis nesta história. Portugal é o nome desta nublosa pátria. Nicky Florentino.