Circunstancialmente o José perde a compostura, emproa-se para além da medida, insufla. Se o tópico da discussão é Álvaro Cunhal, então, essa é uma das tais circunstâncias em que o José se revela grave, como quase sempre, incapaz de frivolidades ou leviandades, sisudo. Conceda-se, sem disputa, por ser por demais evidente, que o José é uma autoridade no assunto Álvaro Cunhal. Sabe muito, leu muito, escreveu muito sobre ele. As mil e quinhentas páginas que escreveu sobre a criatura, consequência de um labor disciplinado e de uma investigação e apurada, atestam-no. É sabido que o José não morre de amores por Álvaro Cunhal. Ele próprio, o José, o confessou. Mas nutre pela personagem uma dedicada, pública e continuada obsessão.
No artigo que surge estampado na edição de hoje do Público, o José argumenta que o fracasso histórico de Cunhal não é um fracasso, mas um «fracasso», um fracasso entre aspas. Ou seja, Cunhal perdeu na história, mas ficou gravado nela. Pode não ser uma forma bonita de perder, mas é uma forma importante, de cânone. Pois é sobretudo por aí que se ilustra a memória. Nicky Florentino e Segismundo.