Nas manifestações que vão animando alguns dos lugares do noroeste, o que mais interessa não é o número de participantes – poucos ou muitos pouco releva –, é a imaginação demonstrada, em palavra e em acto, por esses mesmos participantes. Na prática, as manifestações são concursos de impropérios e tonterias. Vence o que apresentar o cartaz mais ordinário, o que proferir o slogan mais canalha, o que se expressar pela coreografia mais pornográfica. Para além da forma folclórica, tudo o mais é vácuo, conteúdo consumido por sim mesmo, gasoso impossível de materializar. Os manifestantes, hoje, sabem que uma manifestação sóbria não é uma manifestação. É uma procissão. E as procissões não impressionam. As procissões não motivam. Nas procissões não é bonito ostentar num cartaz ou numa t-shirt a exclamação fuck Bush!, tal como não fica bem gritar one, two, three, four, Tony Blair is Bush’s whore. Algures, há sempre um cura com a sua paramenta. Algures, alguém alomba com um andor sobre o qual está alcandorado o padroeiro lá da paróquia. Enquanto as procissões são a celebração da ordem tradicional, as manifestações são a celebração da desordem moderna. Para além disso, as manifestações, por serem espaços de catarse civilizacional segregados pela própria modernidade, têm uma vantagem. A besta que pulsa dentro de cada um pode expressar-se sem consequências de maior. Nos jogos de futebol ou nas campanhas eleitorais não é diferente. Nicky Florentino e Segismundo.