Por simpatia ou qualquer outro engano, o espesso Expresso estampou na secção de debate do suplemento Actual um texto do senhor Prof. Doutor António Manuel Batista a pretexto de – e não sobre – um livro recentemente editado, estouvada e ignominiosamente intitulado Um Conhecimento Prudente para uma Vida Decente, organizado pelo senhor Prof. Doutor Boaventura de Sousa Santos. A ciência não carece de enlevo. É, mesmo, comovente, quando, no âmbito de um suposto debate científico ou com pretensões a isso, a retórica da ofensa prevalece. Em muitas circunstâncias, não é o juízo, esse discernente articulador, que orienta os argumentos e a sua cadeia. E, depois, há o incontornável problema das tribos, das trupes, das seitas. É uma aporia. O senhor Prof. Doutor Boaventura de Sousa Santos pode ser considerado um tonto entre os físicos. Mas convém não esquecer que também o senhor Prof. Doutor António Manuel Batista pode ser considerado um tonto entre os sociólogos. Existem motivos de sobejo para que assim seja. Não é a verdade a referência do debate. É, sim, o poder de enunciar a verdade. A força, sempre a força. A minha verdade é mais verdadeira do que a tua verdade, é o que, em derradeira instância, qualquer cientista pretende afirmar. Por isso, vale o insulto alarve. Assim como vale o dislate aviltante. Merece atenção o episódio do novelo – mais do que da novela – que provavelmente se segue. O que possa ter de edificante ou ilustrador é o que menos interessa. Aliás, é para esse horizonte que menos são mobilizadas energias pelas personagens implicadas. Pois os debates entre cientistas não se querem bonitos. A estética é, sempre foi, má ciência. O Marquês e Segismundo.