Ninguém pode amar o que não tem. O amor ao que não se tem não é amor. É, sim, imaginação. Ou, em hipótese mais deplorável, delírio. Pelo que o único amor possível, o único verdadeiro e derradeiro amor é o amor que não é, por não poder ser, correspondido. É o amor de uma pessoa por uma coisa ou entidade coisificada. O amor não se dá. O amor apropria. O amor entre pessoas é uma forma degenerada de amor. Não é amor, portanto. Aliás, bem entendido, até o amor próprio, o amor de uma pessoa a si mesma, é impossível. Ninguém se ama a si mesmo. Pois a faculdade do amante não é passível de auto-devolução. O mais que aquilo que habitualmente se julga amor a si próprio consegue ser é o negativo da soberba relativamente aos outros. Quais outros?, os outros todos. Nem mais um nem menos um. Não por acaso, o amor é uma invenção da burguesia. A única classe revolucionária. Aquela que sabe o que é a propriedade e o que é a modernidade. Segismundo.