No sábado passado o Público estampou um artigo do Doutor Pedro Magalhães, intitulado "O problema do PS". Hoje, no mesmo jornal, o dr. Pedro Adão e Silva, membro do secretariado nacional do PS, reage, num artigo intitulado "O problema da ciência política". Ora, acusou este aquele nos termos que seguem, "ao proceder a uma elaboração conceptual largamente estranha à realidade portuguesa e ao forçar a realidade a conformar-se com um modelo analítico «importado», a análise de Pedro Magalhães, mantendo a sofisticação, perde as razões". Na prática, segundo o dr. Adão e Silva, o Doutor Magalhães, na análise que ensaiou da actual situação do PS, teria sido vítima de "evidentes limitações analíticas, que são próprias das linearidades com que a ciência política olha para a política".
Duas notas a este propósito.
Em primeiro lugar, não consta que o Doutor Magalhães seja um ingénuo. É certo que a sua perspectiva analítica tende a um formalismo e a um institucionalismo que padecem da dificuldade em reconhecer o efeito de condicionamento político de alguns elementos relevantes de composições sociais exóticas, como a portuguesa. Mas, ainda assim, o discernimento nunca lhe foi coisa rara. Faculdade que o Doutor Magalhães vai mantendo apurada é a capacidade para discernir a complexidade da política e do caso português. Sendo de reconhecer, todavia, que esta faculdade é alimentada por uma certa obsessão comparativa que o Doutor Magalhães cultiva.
Em segundo lugar, há algum primarismo na denúncia que o dr. Adão e Silva faz da ciência política. É que a ciência política não existe. O que existe são ciências políticas. Que não são ciências, mas disciplinas. Seja como for, isto não constitui um problema do PS. Esse problema é outro. Umas vezes chama-se PSD. Outras vezes chama-se Portugal. E outras vezes, ainda, chama-se PS. Nicky Florentino e Segismundo.