Hoje, antes do almoço, na Assembleia da República, o Governo, a coligação da maioria e as oposições falaram. Eram de Português as palavras utilizadas. Mas os sentidos nelas implicados, esses, eram de curto alcance. Falou-se, falou-se, mas pouco ou nada foi dito. No fundo, no fundo, as criaturas ali reunidas em patética simulação de debate sabem que não representam alguém para além de elas próprias. Não necessitam de ser transparentes, de dar publicidade aos discursos, de ser populares. Pois o povo, essa representação sublimada da turba máxima posta em ajuizada ordem, mais não é do que uma ficção. A soberania não está, nunca esteve no povo. Está, sim, na apatia dos abúlicos. Que pouca virtude mais têm do que lamuriar-se da sorte política que lhes calhou. Só beneficiam de sossego porque padecem da amnésia de que a sua sorte são eles próprios. Daí o fácil lodaçal que permitem e cultivam. Nicky Florentino e Segismundo.