Entende o senhor dr. Luís Delgado, plumitivo do vetusto Diário de Notícias, que o leal despacho do anterior senhor ministro da Ciência e do Ensino Superior mais não foi do que “uma ingenuidade política lateral”. Isso mesmo, exactamente, “uma ingenuidade política lateral”. Ao dito senhor dr. plumitivo nunca lhe assomou ao juízo que o escarcéu suscitado pelo caso decorresse do facto de ter sido cometido um dos mais inconvenientes erros, daqueles que atentam contra os elementares princípios da república e da democracia. Alguém investido de autoridade pública facilitar a vida a um amigo ou à prole do amigo não é, nunca foi, “uma ingenuidade política lateral”. É, isso sim, a desconsideração de um dos axiomas matriciais do Estado e da ordem que o justifica. O discernimento permite ver isso. Mas o senhor dr. plumitivo Luís Delgado entende que não, que não foi nada disso, assim tão grave. Entende que a referida “ingenuidade política lateral” só foi codificada e considerada como um problema, problema grave, porque a efervescência mediática investiu sofregamente na dramatização do acontecido, facto que fez com que, a partir de determinado limiar de dramatização, tivesse de acontecer um acto de exorcismo, um processo de expiação. Que deu em que o bode foi um Lynce. Posto isto, é, obviamente, uma pena e uma tristeza. Não a demissão do senhor ministro da Ciência e do Ensino Superior, que aconteceu porque tinha que acontecer, mas a tentativa de desvalorização e de ilusão do problema perpetrada pelo senhor dr. Luís Delgado. Pois há detergentes biodegradáveis com maior capacidade de imacular peças de vestuário resgatadas ao lodaçal. Ele é que, pobre coitado, não vê a publicidade que passa pela televisão. E, por isso, insiste em comportar-se como uma lavadeira esforçada, mas a quem o sabão azul não corresponde. É que ele há manchas que, chiça!, não saem assim. Nicky Florentino.