A propósito da eventual colocação das áreas protegidas sob a tutela da criatura que assentou recentemente em secretário de Estado das Florestas, o senhor dr. primeiro-ministro tornou a mentir. A mentira é intrínseca à acção política. Não porque o exercício do poder seja mentir apenas, mas porque circunstâncias há em que exercer o poder é também mentir. Até aqui, tudo bem. As ordens políticas constitucionais ordinariamente ditas democráticas são construídas sobre a ilusão da transparência e da autenticidade dos poderes. É fácil essa ilusão. Porque mente, condiciona-se o poder à sua constituição, limita-se o seu alcance, no tempo, no espaço e no modo, definem-se princípios que estão indisponíveis à arbitrariedade, permite-se aos gentios a liberdade tanto de argumentar quanto de urrar, concede-se que a informação seja plural e flue. Nestas condições, os gentios predispõem-se à ilusão de que o poder não mente, no sentido em que, se mentir, a mentira pode ser descoberta e denunciada. Porém, essa predisposição só perdura se a ilusão persistir, ou seja, se a mentira não for percebida enquanto tal. Revelada a mentira, posta em publicidade, os gentios agitam-se, pois continuam a ser avessos à sensação de se sentirem enganados. É por isso que a regra é as situações colapsarem. Não as oposições arribarem. Nicky Florentino e Segismundo.