Na televisão, a senhora dr.ª Maria José Morgado propôs uma extraordinária modalidade de combate às evasão e fraude fiscais, a denúncia de casos de corrupção da administração. Como prémio ou benefício, o denunciante teria direito a um perdão fiscal. A proposta não é boa. Há nela dois problemas. Um desses problemas decorre do facto de tal proposta chocar com fundos e incrustados princípios morais dos gentios. É honroso, é de criatura ajuizada, ludibriar essa besta chamada Estado, designadamente a administração fiscal. Daí que, em consciência, se não for néscio, jamais um fulano denunciará quem quer que seja. Um outro problema decorre da provável reacção dos faltosos, a auto-denúncia. Autodenuciando-se, os refractários fiscais conseguiriam um perdão para si mesmos, defraudando os propósitos subjacentes à proposta. Por isso, o melhor, o melhor, mesmo, é deixar tudo como está. Não inventar. Mudar seria apenas criar a hipótese de mais, outras, complicações. E isso não é necessário. Nicky Florentino e Segismundo.