Consumia-o a sensação de pecado cometido, não propriamente o facto de ter pecado. Pertubado por haver noites consecutivas sem dormir, decidiu confessar-se. Sabia ele que o cura da paróquia, só ele, o podia perlavar dos seus pesos de alma. E disso confiante foi à capela em demanda do padre. Reportado o feito, em pantomina, entendeu, porém, o pastor não poder redimi-lo. Há pecados que não se perdoam, disse. E o homem sofreu para o resto dos seus dias, que não foram muitos. Pois que, revelada que foi a infâmia, breve cuidaram os vizinhos de o empalar. Sofre, canalha, murmurou o pároco para si mesmo, no zénite da execução. Não se roubam as nêsperas da nossa senhora da piedade!, acusou depois. Roubar é infringir o sétimo mandamento da magna e divina lei, assim como sucumbir à gula é um pecado mortal. E menos ainda se roubam as nêsperas da nossa padroeira, a senhora da piedade, para lhes dar o uso de supositório. Não é suposto que assim seja!, clamou o padre, perante uma plateia em gáudio, enquanto o flagelo da criatura, lento, prosseguia. O Marquês.