Cite-se Le Livre du Rire et de l'Oubli, de Milan Kundera. "O futuro é só um vazio indiferente que não interessa a ninguém, mas o passado está cheio de vida e o seu rosto irrita, revolta, fere, a ponto de o querermos destruir ou voltar a pintar. Só se quer ser senhor do futuro para poder mudar o passado. Luta-se para se ter acesso aos laboratórios em que é possível retocar as fotografias e reescrever as biografias e a História". Embora esta prosa arraste a memória para os tempos e os processos do senhor Estaline, hoje ela parece aplicar-se também, sem tirar nem pôr, aos manhosos expedientes da propaganda do CDS/PP. É que, segundo consta, na abertura do décimo nono congresso dessa cristã e popular confraria foi exibido um filme onde foram ostensivamente omitidos alguns dos antigos presidentes da causa, inclusive o primeiro. É um comportamento típico de quem, incapaz de fazer esquecer ou superar o pai - que já não é mais do que memória -, o mata por supressão, pretendendo vingar-se das memórias que considera indesejáveis. O problema, o danado problema, é que há sempre outros, conservadores ou antiquários, que não esquecem o que foi e como foi o passado. Pelo que, por mais insistentes que sejam os ensaios, raramente todas as memórias se conseguem construir por traição. Segismundo.